“Mulheres Artistas no Acervo da Ufes”

É com uma reflexão sobre a ativação da memória e a escrita das histórias que a exposição “Mulheres Artistas no Acervo da Ufes” começa a ser pensada. Esta mostra exprime o desejo de ativar recordações a partir do momento em que a obra se encontra com o público, ou seja, a exposição. No arquivo da Gaeu, foram consultadas fotografias, matérias publicadas na imprensa, textos curatoriais, convites, projetos expográficos, etc. e, assim, pôde-se conhecer um pouco mais sobre a programação promovida pela instituição por mais de 40 anos. Queríamos contar para o público sobre todas elas, mas era preciso escolher um recorte.

Esta curadoria se dedica, então, a pesquisar nas mostras realizadas exclusivamente por artistas mulheres. Essa escolha manifesta-se diante da urgência de repensar a pluralidade da História da Arte brasileira sob perspectivas inclusivas de gênero e raça. Nesse contexto, emerge a indagação de como as histórias das exposições realizadas na Gaeu podem nos ensinar sobre o mundo a partir de pontos de vista dessas artistas.

A exposição é organizada como uma retrospectiva que abrange cinco décadas, entre os anos 1978 e 2013. É muito importante iniciar este projeto apresentando “Horizonte” (2013) com a presença de artistas negras: Charlene Bicalho, Luara Monteiro, Tatiana Rosa e Thais Apolinário. Na sequência, os anos 2000 são divididos em duas partes para refletir sobre exposições individuais de Andrea Abreu, Mara Perpétua, Rosana Paste, Thais Graciotti, Marcia Capovilla, Simone Guimarães e Nelma Maria Pezzin.

A década de 1990, também dividida em duas partes, retoma as mostras individuais de Célia Ribeiro, Elisa Queiróz, Lara Felipe, Juliana Morgado, Nelma Guimarães, Tomie Ohtake, além de obras de Lygia Pape. Dos anos 1980, destaca-se uma mostra de Fayga Ostrower. E, para encerrar, resgata-se a primeira coletiva de artistas mulheres realizada na instituição: “PROGRAMA BOLSA ARTE 78”, com trabalhos de Denise Rodrigues Pimenta, Marta Baião Seba, Nelma Maria Pezzin e Neusa Mendes, entre outras.

A seleção procurou considerar uma presença diversa de artistas espírito-santenses, assim como a presença de nomes que são referência para a arte brasileira. Mescla-se aqui obras de artistas que naquele momento estavam em início de carreira com outras de trajetórias já consolidadas. Esclarecemos que a curadoria, realizada em conjunto com a equipe do projeto de extensão Processos de Criação em Curadoria, desenvolve duas perspectivas para este projeto: na primeira, propõe-se textos para ativar as memórias das exposições citadas acima; na segunda, exibe-se fotografias de obras que possuem esse registro no acervo da instituição, independentemente de estarem ou não presentes nas mostras citadas. O trabalho curatorial dialoga também com as propostas educativas realizadas pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em Arte na Educação Infantil-GEPAEI, coordenado pela Professora Margarete Sacht Góes. 

Defende-se aqui a importância das curadorias ativistas, considerando a articulação entre história da arte e prática. “A curadoria torna concretos argumentos sobre as histórias da arte feministas e suas estratégias; a curadoria constrói certos tipos de narrativas históricas, ou, em alguns casos, intervém em narrativas já existentes” (JONES, 2019, p. 365)1. Por esse viés, justifica-se a importância de constantemente repensar e questionar o que e como está sendo apresentado nas ações curatoriais, obras e exposições. 

Em “Mulheres Artistas no Acervo da Ufes”, propõe-se pensar as memórias das exposições de forma rizomática, assim como privilegiar a multiplicidade e a subjetividade das lembranças. Espera-se dar a ver histórias no plural, assim como ressaltar a importância de sua constante retomada. As obras e as exposições recordadas aqui constituem uma defesa do desejo de um futuro mais igualitário e um chamado para que cada vez mais as instituições possam abrir seus acervos para mulheres, pessoas trans, indígenas, negras e negros.